Março se tornou referência internacional como o mês dedicado às pautas feministas, em defesa da vida, da autonomia e soberania das mulheres e contra as desigualdades e violências por elas vividas.
Este mês pode nos servir, sobretudo, para ganhar fôlego e avançar em nossas lutas que são reiteradamente debatidas por tantas mulheres do Brasil e do mundo. Ainda que essa luta não começa e nem termina neste mês, é evidente que março tem um papel fundamental no que diz respeito à visibilidade e à ampliação dos movimentos de mulheres e da luta por relações sociais igualitárias, sejam elas quais forem.
Este mês também é momento de mobilização pela valorização das mulheres no exercício profissional, uma vez neste campo também somos sobejamente invisibilizadas. É por isso que quando o Pritzker Prize de 2020 é dedicado a duas mulheres arquitetas, torna-se uma reconfortante notícia.
Criado em 1979 pela Família Pritzker, em Chicago, o Pritzker Prize homenageia a cada ano um arquiteto ou arquiteta que tenha, com seu trabalho, contribuído significativamente para a humanidade através da arquitetura. Tradicionalmente, os vencedores desse prêmio são homens arquitetos. A situação fica mais desproporcional quando pensamos em números: em quatro décadas de prêmio, apenas três mulheres haviam sido honradas.
Até o início dos anos 2000, nenhuma arquiteta havia sido laureada pelo Pritzker, rompendo este ciclo em 2004, com a arquiteta iraniana Zaha Hadid. Em 2010, a arquiteta japonesa Kazuyo Sejima foi co-homenageada com seu sócio arquiteto Ryue Nishizawa e, em 2017, quem ganhou foi arquiteta espanhola Carme Pigem, também co-homenageada com seus sócios arquitetos Rafael Aranda e Ramon Vilalta. Este ano foi a vez das irlandesas Yvonne Farrell e Shelley McNamara, aumentando para cinco o número de premiações às mulheres.
Ainda não podemos esquecer de nomes como o da arquiteta Denise Scott-Brown, sócia e esposa de Roberto Venturini (prêmio Pritzker 1991), que não foi reconhecida e co-laureada junto ao seu parceiro de trabalho, e a arquiteta japonesa Lu Wenyu, esposa e sócia do arquiteto Wang Shu (prêmio Pritzker 2012) que declinou do prêmio pelo peso de ‘estrelato’ que ele carrega.
Vem a calhar, nesse momento, aquilo que Denise escreveu em seu artigo intitulado Room at the Top? Sexism and the Star System in Architecture:
A maioria das mulheres profissionais podem contar “histórias de horror” sobre as discriminações que sofreram durante suas carreiras. […] Mas algumas formas menos comuns de discriminação vieram a mim quando, no meio de minha carreira, casei com um colega e nós juntamos nossas vidas profissionais no momento em que a fama […] o acometeu. Observei enquanto ele era transformado em um guru arquitetônico […], baseado em nosso trabalho conjunto e no trabalho de nossa empresa. (SCOTT BROWN, 1989, p:237, apud CASTRO, 2014)
Para concluir, celebremos a conquista do Pritzker 2020 para Yvonne Farrell e Shelley McNamara, mas sempre cientes de que apesar do rompimento do ciclo de laureados homens – vividos entre 1979 e 2004 – a invisibilidade das mulheres, narrada por Denise Scott-Brown, ainda é uma realidade. Por isso, seguiremos para que Zaida Hadid, Kazuyo Sejima, Carme Pigem, Yvonne Farrel e Sherlley McNamara não sejam apenas “exceções notáveis” (CASTRO, 2014) da arquitetura.
REFERÊNCIA:
Castro, P. D. (2014). Mulheres e o Prêmio Pritzker: Estudos de Caso. Anais do III ENANPARQ (Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo). Disponível em: http://www.anparq.org.br/dvd-enanparq3/htm/Artigos/SC/ORAL/SC-CDR-035_CASTRO.pdf. Acesso em: mar. de 2020.